Desde a sua fundação, em 1997, a Netflix busca inovações no serviço de aluguel de filmes. Já no início de sua história, a empresa previu a tendência do mercado e começou a investir na distribuição de conteúdo digital. Isso aconteceu 11 anos antes da era das vídeo-locadoras se encerrar definitivamente, com o pedido de concordata da Blockbuster.
De lá para cá, a Netflix acumulou quase 40 milhões de assinantes, que podem escolher filmes de um acervo de mais de 100 milhões de títulos e ainda contam com uma ferramenta que faz recomendações de acordo com as preferências pessoais de cada cliente. Com o passar do tempo, concorrentes foram surgindo e parecia que os dias de domínio total do mercado estavam contados para a Netflix. Foi então que veio o anúncio de que a empresa passaria a investir em produções próprias, ao invés de simplesmente fornecer os produtos de outros estúdios.
A estreia veio com a exibição de Lilyhammer, drama criminoso com leves toques de humor. Em seguida, a Netflix trouxe de volta a aclamada comédia Arrested Development e desenvolveu o terror Hemlock Grove. Por último, vieram os seriados com melhores avaliações da crítica: House of Cards e Orange Is the New Black.
À primeira vista, essas séries parecem ser completamente diferentes. Lilyhammer fala de um mafioso que entrou para o programa de proteção à testemunha e se mudou para a Noruega. Arrested Development é uma sitcom sobre a desajustada família Bluth e seus membros desajustados, que só querem se aproveitar do dinheiro da empresa que virão a herdar. Hemlock Grove trata do assassinato brutal de duas adolescentes, que a comunidade acredita ter sido cometido por um jovem rapaz que pode ser um lobisomem. House of Cards é um drama político sobre as artimanhas de um democrata que, ao ser negado o cargo de Secretário de Estado, decide derrubar as pessoas que o traíram. E, finalmente, Orange Is the New Black é uma dramédia baseada na vida de Piper Kerman, que foi condenada a um ano de prisão por um crime relacionado ao tráfico de drogas e que havia sido cometido dez anos antes por causa de uma ex-namorada.
Apesar dos temas e gêneros tão distintos, as similaridades entre estes seriados são o que fazem deles tão bons. Em primeiro lugar, todos contam com nomes conhecidos, aumentando o atrativo para o público. Se Arrested Development já havia consagrado Jason Bateman e Michael Cera, Lilyhammer é estrelada pelo músico Steven Van Zandt, que despontou como ator na também mafiosa Família Soprano. Por outro lado, Hemlock Grove e Orange Is the New Black não possuem um elenco tão conhecido, mas por trás das câmeras contam, respectivamente, com Eli Roth, produtor de O Albergue, e Jenji Kohan, responsável pela bem-sucedida comédia Weeds. Por último, House of Cards conta com celebridades em todos os lados. O protagonista é o vencedor do Oscar Kevin Spacey (Beleza Americana) e o principal produtor da série é o aclamado diretor David Fincher (A Rede Social).
Além das pessoas certas, cada um destes programas também conta com roteiros de qualidade muito acima da média. Seja adotando um tom mais escuro, utilizando referências pop ou fazendo a audiência dar risada, os textos são tão bem escritos que nos deixam deliciosamente vidrados na tela da TV. Pelo menos, a obsessão por esses shows é mais fácil de ser controlada. Enquanto os seriados tradicionais nos fazem esperar pacientemente pelo lançamento de episódios semanais, a Netflix decidiu disponibilizar todos os episódios da temporada ao mesmo tempo.
Pode ser difícil estimar a audiência e o impacto que estas séries originais estão tendo, pois a Netflix não quis divulgar seus números. De qualquer forma, a crescente base de clientes e o buzz que causado nas mídias sociais indicam que a empresa está se saindo muito bem, talvez até melhor do que os canais televisivos. Com estas produções excepcionais, a Netflix sacramenta o comentário recente do diretor brasileiro José Padilha (Tropa de Elite, RoboCop), no qual ele afirma que a TV vive um momento muito superior ao do cinema. Os fãs agradecem.